Não faço ideia. Melhor seria dizer que não tenho esse nível de arrogância em dizer, assertivamente, qual seria o sentido da periferia.
Posso tentar explicar qual seria o sentido, pretendido, desse blog. O resultado vai depender de uma série de fatores, muitos dos quais não terei controle, sendo assim, também não será o foco das minhas preocupações.
Sou um Geógrafo e Professor de Geografia ou seria Professor de Geografia e Geógrafo? Faz diferença? Provavelmente não, pois ambos não são reconhecidos por grande parte da sociedade. Já ouço os gritos: "pera lá, professor é uma profissão muito digna". Não é minha intenção, nesse momento, discutir a dignidade ou não dessa profissão. Podemos, no entanto, pensar sobre alguns números.
No Estado de São Paulo (sou professor concursado do Estado e da Prefeitura de São Paulo) um professor efetivo em início de carreira (há três categorias: efetivo, "F" e eventual, com ganhos em ordem decrescente) com uma jornada de 30 aulas semanais recebe líquido, ao final do mês, por volta de R$2.500,00. Os gritos novamente: "eu vi o governador dizendo que tem um novo plano de carreira que o professor pode ganhar até R$10.000,00". Resposta do blog: mentira. Também não é verdade quando se diz que o salário médio do professor do Estado de São Paulo está entre R$4.000,00 e R$5.000,00. Se faz uso de malabarismos contábeis para dar essa impressão. A conta é simples: um período de aulas, ou seja, manhã ou tarde é composto por 30 aulas semanais. Nesse sentido o professor que tem todas as aulas teria 30 aulas semanais. Essa deve ser a base da discussão. O outro período? Preparação de aulas, correção de atividades, atualização acadêmica etc. Assim estaríamos falando de uma jornada de 40 horas semanais, carga horária padrão do trabalhador no país. Esse é o "reconhecimento" que a sociedade paulista (Estado mais rico da federação) aceitou em dar ao professor. Nota: o plano de carreira permite evolução: após 20, 25 anos de atuação o valor alcança, talvez, R$3.500,00.
Mas esse também não será o principal objetivo dos textos nesses espaço.
Temas? Não haverá um específico. Política, economia, educação, esportes, saúde, cultura etc. A ideia, pretendida, é fazer uma leitura desses temas a partir da perspectiva da periferia. A periferia tem uma perspectiva própria? Talvez não, mas penso que não é a que está presente em grande parte da mídia. Não entendeu? Perfeito. Não há respostas simples, pelo menos não para questões complexas. O importante é tensioná-las.
Correndo o risco de citar de maneira errada. Segundo Foucault, o conhecimento não surge a partir do consenso, mas do conflito. Quando há a tensão entre as ideias, o confronto, surge, às vezes, uma faísca e essa faísca resultante dessa tensão é o conhecimento. Ou seja, o conhecimento pode ser visto como algo quase antinatural, não se faz presente quando a busca é apenas pelo consenso fácil. O embate permite e é necessário para se alcançar um conhecimento possível. Aceitando, por pressuposto, que esse conhecimento, como todos os outros, é sempre transitório e pode ser desconstruído a qualquer momento.
Não por acaso há um discurso vigente, democraticamente eleito - é sempre bom lembrar, que nega o conhecimento científico e/ou o debate de ideias, pois já sabe qual é a verdade. Ciências humanas é lugar de comunista vagabundo.
Periodicidade? Também não sei. Nesse primeiro momento, tem vários temas sobre os quais gostaria de escrever, portanto, haveria possibilidade de muitos textos na sequência. Também não é minha intenção. Por quê? Um dos motivos de não ter feito uso de espaços como esse antes foi a preocupação em ter alguma relevância. Para isso preciso escrever e reescrever meus textos, deixá-los “descansar” entre um e outro momento. Nesse sentido, relatos diários não são meu objetivo. Não por serem menos importantes, mas devido ao fato do que me mobiliza são outras demandas. Provavelmente irei escrever textos de acordo com meus incômodos e possibilidades de tempo e, posteriormente, serão postados com periodicidade indefinida, pelo menos nesse primeiro momento. É mais barato que terapia.
Enfim, se alguém chegou até aqui, muito obrigado. Esse texto é uma tentativa de apresentação da proposta.
Olhar periférico 01.
Gostei do não objetivo! Acho que nestes momentos "só"colocar para fora é muita coisa!
ResponderExcluirTem um músico/poeta que gosto muito que chama este "talvez" vir ao mundo do texto como teste da escrivaninha, você escreve e deixa guardado tempos depois pega de volta e vê se faz algum sentido.
Concordo com o teste de escrivaninha, de ver se algum tempo depois o texto faz algum sentido, mas gostaria de acrescentar um outro elemento, a revisão textual. Não tenho domínio da escrita, desse modo, preciso reescrever meus textos, se possível mais de uma vez. A busca não é por um texto com a escrita perfeita, mas um sinal de respeito à quem se dispôs a lê-lo. Obrigado.
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